Três espécies de roedores são descobertas na Amazônia

Por Duda Menegassi – O Eco

Pesquisadores descreveram três novos roedores-de-espinho para a ciência e para a rica biodiversidade da Amazônia brasileira. Os pequenos animais foram descobertos a partir do estudo de exemplares de coleções de 15 museus nacionais e internacionais, associado ao sequenciamento do DNA e dados citogenéticos. As três espécies ocorrem em locais diferentes do sudeste amazônico, mas todas apresentam aparente endemismo, ou seja, estão restritas a apenas um local.

Pequenos, com comprimento do corpo que varia entre 6,2 e 7,7 centímetros – menores que uma caneta – os três roedores pertencem ao gênero Neacomys. Os animais têm como característica principal seus pelos em forma de espinhos.

Um deles, o Neacomys marajoara, ganhou seu nome por ter sido encontrado até o momento apenas na Ilha do Marajó, no Pará. Já as outras duas espécies de roedores recém-descobertos, batizados de Neacomys xingu e Neacomys vossi possuem ocorrências restritas a dois centros de endemismo marcados pelos grandes rios amazônicos, enquanto o primeiro foi registrado apenas entre os rios Xingu e Tocantins, o segundo ocorre apenas entre os rios Tapajós e Xingu.

O artigo com a descrição das três espécies foi publicado pela revista American Museum Novitates, do Museu de História Natural de Nova York. O estudo é assinado por pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e da Universidade Federal do Pará (UFPA).

“Com base neste estudo, podemos afirmar categoricamente que a Amazônia é pouco conhecida em termos de diversidade de pequenos mamíferos e que muitas novas espécies serão extintas antes de serem catalogadas pela ciência, uma vez que atividades como o desmatamento, as queimadas e a mineração estão dizimando milhões de áreas de florestas onde potencialmente essas novas espécies ocorrem”, afirma Thiago Semedo, pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi e um dos autores do artigo.

Em especial os dois centros de endemismo onde ocorrem as espécies N. vossi e N. xingu estão localizados próximos à região conhecida como Arco do Desmatamento, historicamente a faixa da Amazônia mais explorada e desmatada.

“Embora o sudeste da Amazônia seja há muito acessível aos coletores, nosso estudo ressalta o fato de que inventários faunísticos e estudos taxonômicos ainda são necessários nesta região, que está entre as partes mais extensamente desmatadas e ambientalmente ameaçadas do bioma amazônico, devido à agricultura industrial, estradas construção, mineração e barragens hidrelétricas”, ressalta o artigo.

Para chegar às descobertas, os pesquisadores analisaram materiais de cinco coleções científicas brasileiras e de dez coleções localizadas na Europa, Estados Unidos e Canadá.

“Quando analisadas em nível molecular, morfológico e comparadas com exemplares do mesmo gênero de outras localidades ou regiões, muitas vezes as espécies depositadas nessas coleções se provam desconhecidas pela ciência”, explica Thiago.

Parte da área do estudo, o sudeste da Amazônia, foi escolhida justamente por ser uma região nunca incluída nesse tipo de revisão sistemática, nos níveis molecular e morfológico, para o gênero Neacomys. Uma quarta espécie se encontra em processo de descrição, e outras duas já foram reconhecidas pelo mesmo grupo de pesquisadores. Todas as seis estão distribuídas na Amazônia brasileira.

Foto: Rogério V. Rossi

Gostou? Compartilhe:

-publicidade-

Rodrigo Rivera