Pesquisadores discutem futuro da Amazônia em ano decisivo

As eleições de 2022 serão decisivas para os rumos que o Brasil irá tomar frente à crise climática global, na qual o futuro da Amazônia é componente-chave. Neste contexto, a revista científica Frontiers lança o especial Amazon Rainforest Future Under the Spotlight: Synergies and Trade-Offs Between Conservation and Economic Development (em português, “Futuro da floresta amazônica sob holofotes: sinergias e trocas entre conservação e desenvolvimento econômico”).

Dos oito artigos que compõem o volume, destacam-se as produções do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) sobre o Conserv e sobre a pegada de carbono resultante de invasões em florestas públicas. Ambas as publicações comprovam os impactos do desmatamento na Amazônia, seja este legal ou ilegal, para o agravamento das mudanças climáticas em escala mundial e tensiona o debate à pauta do desmatamento zero.

“É fundamental que instituições de pesquisa como o IPAM estejam focadas em não apenas diagnosticar desafios, como o desmatamento, as queimadas e o uso inadequado do solo. Precisamos também nos dedicar a apontar caminhos para que tais desafios sejam solucionados: incentivar a conservação em terras privadas, cuidar das áreas protegidas e resguardar direitos de povos e comunidades tradicionais. Essa é uma demanda da sociedade que deve ser refletida nas escolhas eleitorais deste ano, dada a relevância do tema para o futuro do Brasil e do planeta”, destaca André Guimarães, diretor executivo da instituição.

A meta de reduzir em 50% as emissões de gases do efeito estufa até 2030 foi anunciada pelo governo brasileiro em novembro de 2021, durante a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), na Escócia. Uma tarefa que recairá sobre os mandatos eleitos de 2023 a 2026.

Entre os editores do especial da Frontiers publicado na terça (18), ao lado da professora titular do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos na Universidade Federal do Pará, Claudia Azevedo-Ramos, a pesquisadora do IPAM e do Woodwell Climate Research Center, Ludmila Rattis, avalia o impacto da produção científica no momento. “O especial sobre a Amazônia traz uma rica reflexão sobre governança e estratégias para chegarmos ao desmatamento zero e, assim, executar um compromisso que é global.”

Evitando o desmatamento legal

Em pleno funcionamento e expansão na Amazônia Legal, o Conserv é um mecanismo privado de adesão voluntária que compensa produtores rurais na Amazônia Legal por manterem em pé a vegetação nativa que poderiam, por lei, desmatar em suas propriedades. Já são nove contratos com produtores e uma área contratada e conservada que corresponde a mais de 11 mil campos de futebol. Isso significa 133 milhões de toneladas de carbono estocado no solo que, se suprimido, equivaleria a 22% das emissões do Brasil em 2019.

O potencial do Conserv para evitar o desmatamento na região é discutido no artigo inédito Slowing deforestation in the Brazilian Amazon: avoiding legal deforestation by compensating farmers and ranchers, em português, “Desacelerando o desmatamento na Amazônia brasileira: evitando o desmatamento legal compensando agricultores e pecuaristas”. O texto poderá ser lido na íntegra em breve no site da Frontiers.

Pesquisador do IPAM e um dos autores principais, Marcelo Stabile acompanha de perto o desenvolvimento do mecanismo. “Não é preciso desmatar para aumentar a produção, o que precisamos fazer é focar na produtividade. Os serviços ecossistêmicos prestados pela floresta ajudam a manter a sustentabilidade da agricultura no longo prazo, uma vez que a nossa produção depende de chuva, polinização e de um clima local estável”, explica.

O IPAM idealizou o Conserv por dois anos para que este fosse um mecanismo de mercado, com potencial de escala, a fim de contribuir efetivamente na mitigação das mudanças climáticas. Dos planos à concretização, hoje, o programa é capaz de mostrar na prática que a floresta é um ativo valioso tanto para a sociedade, quanto para a economia e para os produtores. O objetivo é transformar a ideia que se tem sobre a conservação e torná-la parte do que o mercado entende como “bom negócio”.

Fora da lei

Já o artigo Beyond Deforestation: Carbon Emissions From Land Grabbing and Forest Degradation in the Brazilian Amazon, em português, “Além do desmatamento: emissões de carbono da grilagem de terras e degradação florestal na Amazônia brasileira”, revela dados sobre o desmatamento em terras públicas griladas e a consequência da atividade ilegal para as emissões brasileiras.

A equipe de pesquisadores do IPAM e do Woodwell Climate Research Center, dos Estados Unidos, descobriu que a invasão e o desmatamento de florestas públicas não destinadas na Amazônia jogaram 1,871 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente na atmosfera entre 2003 e 2019.

O estudo mostra que o problema se intensificou nos dois últimos anos do período avaliado, e destaca que as emissões associadas a distúrbios na floresta somaram quase 11 bilhões de toneladas de CO2 equivalente nos anos estudados – 44% relacionadas à degradação e 56% ao desmatamento.

“São informações que fazem coro à importância de evitarmos a degradação de florestas. Produzir conhecimento sobre cenários de alerta como esse faz parte de uma estratégia institucional do IPAM para a mitigação das mudanças climáticas e para a harmonização do uso da terra no Brasil”, conclui o pesquisador sênior na instituição, Paulo Moutinho.


Foto: Pedro França/Agência Senado

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Rodrigo Rivera