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BELÉM (PA) – Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que será realizada em novembro de 2025, em Belém (PA), organizações da sociedade civil, centros de pesquisa e lideranças locais e internacionais unem esforços para propor ao governo brasileiro um plano de ação capaz de atrair novos investimentos para a conservação, restauração e desenvolvimento sustentável da Amazônia. O plano de ação foi entregue no dia 04/07, ao presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, e à Secretária Nacional de Mudança do Clima, Ana Toni.

A conta é muito simples: se quisermos ter alguma chance de enfrentar a crise climática, mantendo a temperatura média global abaixo dos 2ºC, precisamos evitar que a Amazônia entre em colapso. Segundo cientistas, a perda de 50% a 70% da maior floresta tropical do mundo jogaria na atmosfera 300 bilhões de toneladas de carbono, inviabilizando o alcance da meta do Acordo de Paris. Não há tempo a perder, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), marcada para novembro de 2025 em Belém, é uma oportunidade histórica para colocar a Amazônia no centro da agenda climática global.

Em documento intitulado Ampliando o Grande Financiamento de Soluções Baseadas na Natureza para Proteger a Amazônia: Um Roteiro para a Ação, os signatários pedem à Presidência da COP30 que lidere a mobilização global de recursos públicos, privados e filantrópicos para garantir a proteção da maior floresta tropical do planeta e evitar que a Amazônia atinja um ponto irreversível de degradação.

A urgência de proteger a Amazônia

Com 6,5 milhões de km², a Amazônia abriga 13% das espécies conhecidas no planeta, 20% da água doce superficial e cerca de 47 milhões de pessoas — incluindo mais de 400 povos indígenas. Essencial para o equilíbrio climático global, a floresta amazônica armazena entre 150 bilhões e 200 bilhões de toneladas de carbono, o que equivale a 15 a 20 anos de emissões globais de CO₂.

No entanto, a Amazônia enfrenta um momento crítico. Mais de 17% da floresta em território brasileiro já foi desmatada e 31% está degradada. A perda de mais 5% da vegetação pode levar a um ponto de não retorno, com a conversão irreversível da Amazônia em savana. Políticas econômicas agravam o problema: 89% do financiamento climático agrícola global é direcionado a práticas insustentáveis — e 30% do desmatamento anual ocorre em Florestas Públicas Não Destinadas, áreas altamente vulneráveis à grilagem.

Ao mesmo tempo, o financiamento atual para a Amazônia é insuficiente. Segundo o Banco Mundial, são necessários US$ 7 bilhões anuais para proteger a floresta, mas na última década foram mobilizados apenas US$ 5,8 bilhões. Hoje, 3% do financiamento climático global é destinado a soluções baseadas na natureza para mitigação e 11% para adaptação, apesar do potencial dessas iniciativas para entregar até 30% da mitigação necessária até 2030.

De forma geral, os autores recomendam o estabelecimento de um plano de ação claro para alinhar os fluxos financeiros com economias favoráveis à natureza na Amazônia, incluindo a reorientação de subsídios e incentivos perversos que estão destruindo a Amazônia, e exigindo rastreabilidade entre as principais cadeias de suprimentos desenvolvidas perto de áreas de alto desmatamento. Pedem também um compromisso global para combater economias ilegais transnacionais, o pagamento por serviços ambientais, o fortalecimento de salvaguardas e a implementação de uma abordagem baseada em direitos humanos, como segurança da posse da terra e inclusão de povos indígenas e comunidades locais.

“Salvaguardar a resiliência da floresta no Antropoceno depende de dois imperativos: conservar pelo menos 80% do bioma amazônico e colaboração global para reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito estufa com aporte financeiro adequado”, destaca a carta, que apresenta caminhos factíveis e em linha com os trilhos das negociações da COP30. “Proteger a Amazônia não é apenas uma questão ambiental, mas uma necessidade econômica e climática global. O investimento necessário é significativo, mas factível e infinitamente menor que os custos de permitir que este ecossistema vital entre em colapso”, conclui o documento.

Chamado à Presidência da COP30: um pacto global pela Amazônia

As organizações civis signatárias solicitam que o Brasil assuma um papel de liderança na COP30, para estimular uma coalizão que mobilize recursos, governos, bancos de desenvolvimento, empresas e grandes fundações, garantindo que o dinheiro chegue a iniciativas que mantenham a floresta em pé e fortaleçam as comunidades que vivem e cuidam dela.

As recomendações-chave estão divididas em três eixos:

1. Financiamento para a Conservação – Fortalecer mecanismos como o Programa ARPA (Áreas Protegidas da Amazônia), Herencia Colômbia, Patrimonio del Perú e o Fundo Podáali para conservar 331 milhões de hectares, restaurar 600 mil km² e garantir repasses diretos a comunidades indígenas e locais.
2. Economia Verde e Inclusiva – Incentivar cadeias produtivas livres de desmatamento, como a Moratória da Soja e o programa de rastreabilidade da carne bovina do Pará. A iniciativa IFACC já mobilizou US$4,6 bilhões para cadeias sustentáveis e pode servir de exemplo para novos compromissos.
3. Fortalecimento de Capacidades e Governança – Investir em tecnologia de monitoramento ambiental, capacitar governos locais e garantir o protagonismo de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais (PICLs), com salvaguardas socioambientais e respeito às suas formas de gestão territorial.

As organizações apelam para que o Brasil lidere a criação de uma coalizão global capaz de mobilizar os recursos necessários à proteção da Amazônia. Entre as medidas propostas, destacam-se:

• Lançar uma Declaração Global pela Amazônia, com metas claras para alinhar os fluxos financeiros a uma economia positiva para a natureza.
• Promover a criação do Tropical Forest Forever Facility (TFFF), com o objetivo de captar até US$ 125 bilhões para florestas tropicais até 2030.
• Estimular a atuação integrada de bancos públicos de desenvolvimento, filantropias e setor privado para apoiar a conservação, o uso sustentável e a restauração dos ecossistemas amazônicos.
• Garantir que povos indígenas e comunidades tradicionais tenham acesso direto aos recursos e que suas estruturas de governança sejam respeitadas e fortalecidas para exercerem a proteção da natureza e enfrentamento das mudanças climáticas.

Organizações apoiadoras deste chamado à ação:

Andes Amazon Fund | Science Panel for the Amazon – SPA | Conservation International – CI | The Field Museum | IPAM | Uma Concertação pela Amazônia | Rainforest Trust

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Rodrigo Rivera